A dependência virtual tende a se tornar um problema cada vez mais frequente, o que faz com que seja necessário entender melhor esse problema
É inegável como uma série de inovações digitais que ganham cada vez mais espaço na vida cotidiana oferecem novas formas de interação, socialização e diversão. Com alguns toques na tela, comandos no teclado ou através apenas a própria voz, é possível acionar uma série de recursos que facilitam o dia a dia. Cresce também a ideia de que o uso abusivo dessas ferramentas pode gerar dependência virtual.
Ainda que muito precise ser estudado sobre o tema, várias evidências reforçam a noção de que qualquer pessoa pode se tornar dependente, em alguma medida, seja das redes, seja de jogos eletrônicos ou mesmo do próprio smartphone. A partir disso, é importante refletir sobre o uso desses dispositivos e o que fazer quando o abuso no contato estiver prejudicando o bem-estar.
Os diferentes âmbitos da dependência virtual
É quase impossível imaginar uma vida sem internet (ou mesmo, sem redes sociais ou smartphone). Não só para o contato com amigos ou para se divertir, interações digitais costumam ser a base de diversos relacionamentos, inclusive do ponto de vista profissional. Com isso, fica difícil delimitar o que é um uso esperado (e muitas, necessário) de recursos digitais e quando isso se transforma em um problema.
Embora existam esforços para categorizar um transtorno de dependência de internet, os principais manuais clínicos de psicologia e/ou psiquiatria não trazem tal definição. A última edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11), que começou a ser utilizada em 2022, aponta o uso abusivo de jogos eletrônicos como um problema de saúde.
Em síntese, tal condição é caracterizada pelo comportamento persistente envolvendo a jogatina predominantemente online, sem que o indivíduo tenha controle sobre suas necessidades e passe a priorizar tal prática em detrimento de outras atividades. Em certa medida, tal definição equipara a dependência virtual em jogos eletrônicos àquelas experimentadas nos quadros de vícios em uma substância química.
De todo modo, a definição de uso abusivo de jogos eletrônicos não inclui uma série de outros comportamentos problemáticos relacionados aos dispositivos que nos cercam. Neste contexto, outros termos foram sendo criadas para tentar dar nome a esse tipo de preocupação.
É o caso, por exemplo, da dupla FOMO e nomofobia. A primeira diz respeito ao medo de estar perdendo algo ou sendo deixado de fora (Fear or Missing Out, na sigla em inglês) e a segunda traduz a sensação de desconforto ou mesmo pânico que muitas pessoas têm ao ficar longe de seus smartphone (de No Mobile Phone Phobia, em inglês).
Sinais e consequências da dependência virtual
Do mesmo modo que é difícil definir um quadro de dependência da internet, pode ser complicado delimitar quais seriam os sinais desse tipo de problema. Seja como for, leva-se em conta que as manifestações dessa condição combinam sintomas comuns à dependência de substâncias químicas e jogos não-eletrônicos, de transtornos de ansiedade e de diversos tipos de fobia. Alguém com dependência virtual apresentaria sinais como:
- Um padrão de comportamento persistente, que privilegia as atividades online;
- Descontrole sobre o tempo dedicado a essas atividades;
- Manutenção desse padrão de comportamento mesmo diante de reflexos negativos (rompimento de laços ou perda do emprego, por exemplo);
- Desconforto (em geral ansiedade, tédio ou mesmo irritação) perante períodos desconectados.
Em todo caso, é preciso considerar se esses comportamentos não são reflexos de outra condição envolvendo a saúde mental. Além disso, existem evidências de que pessoas com transtornos mentais prévios (como depressão e transtornos de ansiedade) teriam maior chance de desenvolver algum grau de dependência virtual.
De qualquer forma, no longo prazo, isso certamente compromete a qualidade de vida. É comum que pessoas nessa condição sofram perda de prazer em atividades antes agradáveis, apresentem problemas de concentração, fadiga constante, irritabilidade, entre outros sintomas. E ainda a substituição de qualquer atividade pela compulsão digital reduz a prática de atividades físicas, o que contribui para o aumento de peso e problemas nas costas e articulações. No mais, esse tipo de hábito prejudica até mesmo a qualidade do sono.
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O que pode ser feito para minimizar esse problema
Logo que um comportamento produz sofrimento, o psicólogo e o psiquiatra devem ser procurados para oferecer o suporte necessário. Por meio das ferramentas disponíveis a esses profissionais, os indivíduos podem retomar uma relação saudável com os dispositivos digitais e com a própria vida.
Entretanto, não é preciso chegar a esse ponto para desenvolver uma relação mais harmoniosa com a tecnologia. Embora haja benefícios do acesso a tais recursos, tudo deve ser feito sempre com equilíbrio, principalmente entre crianças e adolescentes. Essas faixas etárias têm mais chance de desenvolver algum grau de dependência virtual. Por isso, o uso de telas eletrônicas por eles deve sempre ser supervisionado em relação ao tempo e ao conteúdo.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças menores de 2 anos não sejam expostas à telas, por exemplo. Entre os 2 e 5 anos, o tempo de contato não deve superar 1 hora por dia. Entre os adolescentes, o ideal é evitar o isolamento frente ao computador/celular/videogame e garantir que eles não percam horas de sono devido a esse hábito.
Para os adultos, apagar aplicativos que tomam tempo demais de forma desnecessária já ajuda na prevenção à dependência virtual. Atualmente, a maioria dos aparelhos já conta com recursos nativos para limitar o tempo de uso, o que também pode ser útil. Por fim, vale sempre incluir na rotina intervalos para ficar desconectado e longe de telas, principalmente durante os períodos de descanso e relaxamento ou mesmo nas horas antes de ir para cama.
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