Você tem a sensação de que o celular está sugando seu tempo? Talvez você não tenha se dado conta, mas isso pode estar indo além da impressão, já que estima-se que os brasileiros passam, em média, mais de 5 horas por dia com os olhos grudados no smartphone. Se isso nem sempre representa um quadro de dependência virtual, passar tempo demais em contato com as telas certamente pode gerar várias consequências para a rotina.
Uma das principais delas, sem dúvida nenhuma, é a queda de produtividade no trabalho. A atenção constante aos aparelhos eletrônicos pode afetar o cumprimento de todas as demandas de um dia de expediente, além de, no longo prazo, atrapalhar o bem-estar como um todo.
O que caracteriza a dependência virtual?
Embora nem sempre passar tempo no celular indique que a pessoa é uma dependente virtual (ou digital), vale repassar alguns dos sinais que podem indicar a presença desse problema. Em geral, mais do que a quantidade de horas, tal condição é caracterizada pela dificuldade em se manter desconectada e longe dos dispositivos eletrônicos.
Ou seja, imagine uma pessoa que trabalha com a internet e precisa passar horas conectadas. Todavia, quando o expediente termina, ela pode seguir sua vida normalmente, longe das telas. Por outro lado, alguém que estabelece uma relação de dependência virtual pode ter dificuldade em se desprender do mundo digital mesmo nessas circunstâncias.
Outra forma de compreender isso é entender que os períodos de desconexão exigem esforço e podem até mesmo causar angústia na pessoa. É como se um fear of missing out (o Fomo, ou medo de estar perdendo algo) se ampliasse e levasse à percepção de que qualquer momento fora da internet ou longe do celular faria aquele indivíduo deixar de lado algo muito importante. A partir disso, podem surgir sinais de tédio, irritação ou ansiedade por conta do período offline.
Vale ressaltar que ainda não existe uma descrição amplamente aceita do que é e o que caracteriza a dependência virtual (como acontece, por exemplo, com substâncias ou jogos, cujos quadros já são mais bem descritos pelos especialistas).
No mais, a necessidade excessiva de estar conectado aos dispositivos eletrônicos pode ser subjacente a outros transtornos mentais. Não é raro que pessoas com depressão ou ansiedade tenham a tendência de se manterem mais tempo online, por exemplo.
Como a dependência virtual afeta o seu desempenho em tarefas diárias, inclusive no trabalho?
Em tese, o uso da tecnologia em diferentes ocupações permitiria que todo mundo fizesse mais coisas em menos tempo. Ou seja, a esperança era de que esses novos recursos trariam ganhos de produtividade. Mas sem os devidos cuidados, isso pode não sair conforme esperado.
Pelo contrário: as distrações online e o tempo em excesso conectado podem ir no sentido inverso e afetar a produtividade de pessoas e equipes.
Logo de cara, é provável que as interrupções constantes por conta de diferentes aplicativos e notificações atrapalhem a concentração e continuidade na dedicação às tarefas. Assim sendo, elas demoram tempo demais para serem feitas e são entregues com uma qualidade aquém do esperado.
Dependendo da atividade profissional desenvolvida, os prejuízos podem ir além. É o que acontece, por exemplo, em contextos em que a atenção total é indispensável para evitar acidentes (como em operação de máquinas ou em obras, entre outras circunstâncias). Por isso, o uso inadvertido de dispositivos eletrônicos nesse contexto não só atrapalha a produtividade, como coloca em risco a saúde e a segurança no trabalho.
É preciso ainda considerar que o tempo demasiado conectado prejudica vários aspectos do bem-estar e, por consequência, o desempenho no trabalho. É o caso do sono. Usar demais o celular interfere no tempo e na qualidade das noites de descanso, com reflexos sobre a produtividade no dia seguinte.
Por fim, no longo prazo, abusar dos dispositivos eletrônicos pode favorecer a chance de alterações oftalmológicas, de problemas de posturas e de lesões osteomusculares. Essas duas últimas condições são causas frequentes de afastamento do trabalho, inclusive.
Veja também: Confira 7 dicas de autocuidado com a saúde mental no trabalho.
O que fazer para retomar uma relação saudável com os dispositivos digitais?
O primeiro passo para mudar seus hábitos no mundo virtual passa por reconhecer a gravidade do problema. Assim, utilize aplicativos que contabilizam o uso do smartphone e veja quais aplicações mais consomem as suas horas. Dessa forma, você pode limitar esse tempo de uso ou mesmo excluí-las do telefone, se isso for possível. Além disso, outras dicas básicas envolvem:
Tente passar períodos do dia longe do telefone e outras telas
Essa recomendação é valiosa sobretudo na hora de dormir. Por isso, mantenha o celular longe da cama à noite, inclusive para carregá-lo. Uma forma de facilitar isso é usar um relógio convencional como despertador em vez do aparelho.
Faça tarefas longe do celular, quando possível
Vai almoçar? Que tal deixar o celular na gaveta nessa hora? Pouco a pouco você perceberá que os períodos de desconexão vão se tornar mais simples e até mesmo prazerosos.
Separe momentos do dia para responder seus contatos
Quase nada é urgente o suficiente para depender de resposta imediata, então deixe o que não for indispensável para esses intervalos.
Desligue notificações desnecessárias
E dedique sua atenção ao que importa em cada momento.
Procure por formas de se entreter que não dependam das telas dos dispositivos eletrônicos
Tente cultivar o hábito da leitura ou de trabalhos manuais, por exemplo.
Apesar dessas dicas, cabe destacar que quadros mais sérios de dependência virtual podem depender de ajuda especializada para serem revertidos. Com a onipresença da tecnologia na vida cotidiana é provável que isso se torne mais comum, então pessoas sofrendo com tal condição não devem ter receio em buscar apoio profissional.
Nesse sentido, veja quais as diferenças na atuação de psicólogos e psiquiatras e saiba como eles podem trabalhar em conjunto.