
O retorno ao trabalho após a chegada de um bebê costuma vir acompanhado de sentimentos mistos para as mulheres. De um lado, o desejo de retomar a rotina profissional; do outro, a preocupação em manter os cuidados com a criança, especialmente quando o assunto é amamentação.
Para muitas, esse é um dos desafios mais delicados do pós-parto, gerando diversas dúvidas. No entanto, com planejamento, informação e apoio, dar continuidade ao aleitamento materno é uma possibilidade que pode ser adaptada ao novo momento.
Leia também: Saúde mental e trabalho: confira 7 dicas de autocuidado
A importância do aleitamento materno
O aleitamento materno é uma recomendação prioritária de todos os órgãos oficiais, incluside da própria Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com essas diretrizes, o bebê deve receber apenas leite materno nos primeiros seis meses de vida, sem necessidade de água, chás, sucos ou outros alimentos.
A partir do sexto mês, inicia-se a chamada introdução alimentar com escolhas naturais e saudáveis (como frutas e vegetais), mas a amamentação deve continuar até os dois anos ou mais.
Esse cuidado é essencial para o crescimento saudável da criança, fortalecendo o sistema imunológico e contribuindo para o vínculo afetivo com a mãe. Para a mulher, amamentar também são gerados benefícios importantes, como a redução do risco de certos tipos de câncer e o auxílio na recuperação pós-parto.
Saiba mais: Nutrição e amamentação: como a alimentação da mãe pode influenciar na saúde do bebê?
Equilibrar amamentação e vida profissional é possível
Uma revisão sistemática publicada na Revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), analisou 12 estudos sobre a relação entre retorno ao trabalho e amamentação. Os resultados indicaram que, em cinco desses estudos, as mulheres que voltaram ao trabalho antes de seis meses amamentaram menos do que aquelas que permaneceram em casa.
Esse cenário levanta preocupações e reforça a necessidade de conscientizar e informar as mães sobre direitos e cuidados nesse período, como aponta a Sociedade Brasileira de Pediatria. Mesmo diante da rotina agitada de trabalho, é possível e indicado que se mantenha o aleitamento materno.
O principal ponto é garantir que a produção de leite continue. Para isso, recomenda-se esvaziar as mamas regularmente, por meio da retirada manual ou com bomba. Quanto mais o leite é extraído, maior será a produção. Inclusive, se houver uma sala de apoio à amamentação no local de trabalho, é ideal também utilizá-la, seguindo as orientações para armazenamento do leite.
Além disso, a amamentação noturna é especialmente importante, já que o hormônio responsável pela produção de leite, a prolactina, é liberado em maior quantidade ao anoitecer.
Nos últimos 15 dias antes do retorno ao trabalho, é fundamental começar o processo de retirada e congelamento do leite em pequenas porções, bem como alinhar com os responsáveis pelos cuidados com o bebê como oferecê-lo. Assim, todos os envolvidos, inclusive a criança, terão tempo para se adaptar à nova rotina.
Veja também: Vida e trabalho: confira 5 dicas para encontrar o equilíbrio entre esses aspectos
Passo a passo para garantir o aleitamento materno mesmo trabalhando
Com base nas dicas da Cartilha para a mulher trabalhadora que amamenta, do Ministério da Saúde, a lactante pode se organizar e preparar uma rotina que permita que o bebê receba o leite mesmo quando ela está ausente no dia a dia de trabalho.
Passo um: retirada do leite materno
Antes de iniciar o processo, é necessário seguir alguns cuidados de higiene:
- retirar anéis, pulseiras e relógio;
- usar touca no cabelo e cobrir a boca com tecido limpo;
- lavar bem as mãos e braços com sabão e as mamas apenas com água;
- secar com pano limpo ou papel-toalha.
Para a retirada manual:
- prepare o frasco que será utilizado;
- sente-se em local tranquilo, de forma relaxada, e pense no bebê para estimular a descida do leite;
- massageie as mamas com movimentos circulares, especialmente a região da aréola;
- posicione os dedos corretamente ao redor da aréola e inicie o movimento de compressão suave e ritmada;
- despreze os primeiros jatos e armazene o restante no frasco higienizado.
Passo dois: armazenamento e conserva
O leite deve ser guardado em frascos de vidro incolor de boca larga com tampa plástica, como os de café solúvel. Para garantir a segurança do alimento, esterilize o frasco e a tampa por 15 minutos em água fervente e deixe secar naturalmente sobre pano limpo antes de utilizá-lo.
Ao encher um frasco de leite:
- identifique-o com nome, data e hora da coleta;
- guarde no freezer ou congelador;
- se o frasco não estiver cheio, pode ser completado com outra coleta, deixando sempre espaço de dois dedos na borda.
Os prazos de validade do leite armazenado são de 12 horas na geladeira e 15 dias no freezer ou congelador (desde que congelado imediatamente após a coleta).
Passo três: aquecer e servir
O leite armazenado deve ser descongelado em banho-maria com o fogo desligado, agitando o frasco suavemente para misturar os componentes. É importante nunca fervê-lo direto no fogo ou aquecê-lo no micro-ondas, pois pode eliminar nutrientes e fatores de proteção.
Na hora de oferecer ao bebê utilize copinho, xícara ou colher e elimine o que sobrar nesses recipientes após o consumo. Já o que restar do leite descongelado no frasco inicial pode ser guardado na geladeira e usado em até 12 horas.
Retomar a rotina profissional enquanto se mantém o aleitamento materno pode exigir alguns ajustes e tempo de adaptação, mas com organização e apoio, a prática acaba se tornando familiar e mais tranquila de encaixar na rotina.
Vale lembrar que cada mulher deve procurar adotar esses passos dentro de sua realidade. O importante é garantir o cuidado com o bebê e consigo mesma para seguir em harmonia com a jornada profissional e a vida pessoal em família.
Aproveite e entenda a importância do cuidado com a saúde mental no puerpério.