O combate à obesidade infantil é visto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos mais importantes desafios para a saúde pública global do século XXI. Os dados da entidade apontam que mais de 38 milhões de crianças com menos de 5 anos estão com sobrepeso ou obesas em todo o mundo.
Os índices brasileiros também são altos. Dados do Ministério da Saúde, publicados pela entidade no Atlas da Obesidade Infantil, mostram que 3 em cada 10 crianças com idade entre 5 e 9 anos estão acima do peso no país, e a expectativa é de que o Brasil alcance a 5ª posição no ranking dos países com maior número de crianças e adolescentes obesos até 2030 se nada for feito.
As estimativas apontam ainda que 40% das crianças e 70% dos adolescentes obesos se tornarão adultos obesos. A consequência disso é o aparecimento de doenças como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, além de problemas ortopédicos e distúrbios psicológicos.
O tratamento precoce da obesidade pode permitir mudanças permanentes de hábitos com reflexos positivos sobre saúde da criança no longo prazo, mas requer o envolvimento de toda a família, que precisa aprender a lidar com a obesidade infantil e com a criança por inteira, não apenas com seu excesso de peso.
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Quando uma criança é considerada obesa?
O Índice de Massa Corporal (IMC) é um importante indicador usado pela OMS para verificar o estado nutricional dos indivíduos e seu uso é bastante difundido. Mas a classificação do IMC (calculado a partir da divisão do peso pela altura elevada ao quadrado) de crianças e adolescentes precisa atender a critérios específicos, que levam em consideração a curva de crescimento desses jovens.
Para auxiliar pais e mães nesse cálculo, o Ministério da Saúde disponibiliza em seu site uma calculadora própria para esse fim.
A ferramenta classifica se a criança está abaixo do peso, no peso adequado, com sobrepeso ou obesa, mas precisa ser utilizada com cautela.
A calculadora não deve ser usada como uma fonte de orientação clínica e não substitui o aconselhamento médico, que é o profissional mais adequado para a realização do diagnóstico da doença.
O cálculo do IMC se baseia em peso e altura, e deve ser usado apenas como um indicador, uma vez que indivíduos com um mesmo IMC podem apresentar diferentes quantidades de gordura corporal.
Do ponto de vista clínico, a obesidade é definida como um acúmulo anormal ou excessivo de gordura que representa risco à saúde, mas a doença é complexa e tem causas multifatoriais que envolvem tanto fatores genéticos e metabólicos, quanto aspectos sociais, psicológicos e ambientais.
Como a família pode lidar com a obesidade infantil?
O tratamento da obesidade infantil deve incluir mudanças nos hábitos alimentares e no nível de atividade física, mas os aspectos emocionais, que envolvem a realidade da criança também precisam ser levados em consideração.
1. Relação entre a comida e as emoções
Apesar de não haver consenso quanto ao grau de associação entre obesidade e sintomas psicológicos, algumas características comuns já foram identificadas em crianças obesas e elas envolvem angústia, insegurança, baixa autoestima, estresse e ansiedade.
Fatores externos, que geram estresse nas crianças e causam mudanças significativas em sua rotina, tais como separações ou perdas na família, também podem provocar mudanças nos padrões alimentares dos jovens, que têm, em função da pouca idade, um repertório limitado para lidar com as adversidades.
Por isso, é importante procurar entender as motivações que levam as crianças a comerem mais do que o necessário.
Muitas vezes a comida é usada numa tentativa de “equilibrar” problemas emocionais ou compensar carências.
É indispensável estabelecer um diálogo com a criança para compreender como se dá a relação entre a alimentação e os sentimentos, e fornecer a ela o apoio necessário para entender o que se passa.
2. Recompensa alimentar
Em algum momento da vida quase todos os pais dão guloseimas aos filhos para recompensá-los por bom comportamento ou para consolá-los quando estão tristes.
Esse tipo de estratégia pode levar as crianças a comerem demais mesmo quando não estão com fome.
Tanto recompensas quanto consolos podem ser oferecidos à criança por meio de gestos de trocas afetivas com resultados mais positivos do que aqueles oferecidos pela comida.
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3. Mudanças na alimentação
É importante lembrar que uma criança obesa é, antes de tudo, uma criança, e ela pode não ter maturidade suficiente para lidar com mudanças radicais. Por isso, o ideal é que as modificações no cardápio sejam realizadas aos poucos e proporcionem uma experiência prazerosa para a criança.
As refeições devem ser preparadas em casa utilizando preferencialmente alimentos in natura ou minimamente processados, e é importante que sejam realizadas em família.
Almoços e jantares devem ser transformados em um evento agradável, um momento para compartilhar experiências e histórias.
Também é importante desencorajar crianças a comerem na frente das telas de TV, computador, tablets ou smartphones. Isso pode levar à diminuição da consciência da quantidade de alimento ingerida. E os adultos também devem evitar esse tipo de comportamento para dar um bom exemplo aos jovens.
As porções servidas às crianças devem ter o tamanho apropriado, uma vez que elas não precisam de tanta comida quanto os adultos. Uma alternativa é servir porções pequenas e deixar a criança pedir mais se ainda estiver com fome.
As crianças precisam comer até ficarem satisfeitas, ainda que isso signifique deixar comida no prato.
O Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de Dois Anos e o Guia Alimentar para a População Brasileira, disponibilizados pelo Ministério da Saúde, podem servir como uma boa fonte de referência para quem adotar um padrão de alimentação mais saudável.
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4. Implementação de atividades físicas
O estímulo da atividade física pode ser feito de forma lúdica, por meio do resgate de algumas brincadeiras. Esse tipo de atividade queima calorias, fortalece ossos e músculos, ajuda as crianças a dormir melhor à noite e a ficarem alertas durante o dia.
Essas atividades não precisam incluir um programa estruturado de exercícios, em horários definidos, elas podem envolver brincadeiras que levam a criança a se mexer, como brincar de esconde-esconde, pega-pega, pular corda ou jogar bola.
Também é possível usar a criatividade para levar as crianças a se movimentarem mais. Por exemplo, uma criança que gosta de ler pode ser levada em um passeio a pé ou de bicicleta até a livraria ou a biblioteca do bairro para aquisição de um livro. Quem tem cães em casa pode incluir a criança nos passeios com o cachorro.
Crianças ativas têm maior probabilidade de se tornarem adolescentes e adultos saudáveis.
Pais e familiares com hábitos alimentares ruins, que não praticam atividades físicas ou que recorrem constantemente à comida para lidar com problemas emocionais não dão um bom exemplo aos jovens.
A família tem um papel fundamental no modo como a criança aprende a se relacionar com a comida e na formação de um estilo de vida saudável.
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